Lembro como estava meu coração quando me aproximei dela. Sozinho, solitário, desejoso por recomeçar, persistindo para não deixar morrer o sonho de um amor tranquilo, pacífico e sincero.
Ela havia deixado expresso que apenas queria alguém sincero, que fosse homem desejoso por construir uma família e que acreditasse e amasse o Criador.
Me encantei pelo seu jeito singelo, seu carinho e dedicação por crianças, então eu disse: " É quase impossível alguém amar crianças e ter um coração mau". Ela riu, agradeceu e silenciou-se. Fiquei num vácuo delicadamente estranho e de forma respeitosa decidi não insistir.
Vários dias e meses se passaram, trilhamos caminhos diversos, embora mantivéssemos contato mínimo de quem reconhece mutualmente que há algo de bom na essência um do outro.
Ela ensaiava seus passos tímidos em busca de um novo recomeço, coração magoado de quem prefere machucar a alma a macular seu corpo em aventuras egoístas de pessoas para quem a profundidade não ultrapassa a epiderme.
Havia em nós uma luta em comum, não permitir que nosso ser se tornasse ateu do amor devido as desilusões e as tentativas frustradas.
Nessa luta, encontrei pessoas interessantes, gente boa, tive bons delírios de encontros que jamais se efetivaram. Ela, ah! ela precisava fechar ciclos, e como quem sente confiança em confidenciar-me alguns de seus segredos, me revelou que seu coração estava preso a uma história a qual percebia que havia se tornado apenas sua.
Depois de ouvi-la, me refugiei nos meus poemas, coisa minha, intimista, recurso que uso para algumas vezes fugir de uma realidade dura e penosa. Então como que numa catarse eu compus esse poema.
Ciclar, Ciclos e vida.
O ciclo que insiste
em rodar persiste
e mantém a vida
em um não movimento.
Vida que não vive,
em ilusão se vicia,
recusa-se, reiniciar.
já é hora de ciclar.
Fechar o ciclo,
abrir-se pra vida,
arriscar-se na vida,
no chão do existir.
Ciclar, fechar, andar.
mover-se, viver.
Voltar a sonhar.
Enxergar-se livre,
sentir-se vivo.
Pulsar sentimentos,
não caminhar em ciclo,
romper os vínculos
que cativaram o coração.
É preciso ciclar,
É preciso ser cruel
para viver o bem
tem que sentir o fel?
Pra aprender a conjugar,
Esse novo verbo CICLAR,
Tem que viver cada tempo,
respeitar o sentimento,
sem abortar cada momento
e saber que pro sofrimento,
temos que dá um basta, um fim.
Senão, agente se vicia,
a viver num tempo
de conjugar só no passado.
Onde a vida não acontece,
onde os sentimentos não são reais,
mas são frutos das idealizações,
de possibilidades que não existem mais.
Já é hora de ciclar.
Antoniel Rimualdo
01 de Outubro de 2012.
00:25
Lua Cheia. Primavera.
Açailândia (Ma)
Ela leu a poesia que escrevi, ela se encantou, se aproximou, curiosa em buscar saber um pouco mais de mim. Mas ainda tímida e arisca, como quem receia se aproximar por temer a dor. Eu imaginava que era apenas amizade pois já havia caído na real; a distância, outras agendas, imaginei ser impossível.
Assim ficamos amigos, e em dezembro de 2012 ela se apercebeu apaixonada por um amigo e eu me lancei no risco de começar uma nova história.
Foi tudo tão rápido! Um flerte, um vácuo, admirações mútuas, amizade, paixão, aproximação, então tudo se transforma compromisso, o amor cresce, meses depois veio o noivado e hoje estou casado com a pessoa mais incrível e admirável que eu poderia ter.
Ela está aqui ao meu lado, com sono, mas curiosa por saber o que estou a escrever.
Cinco anos se passaram desde o dia que nos adicionamos, mas há quatro anos atrás nós decidíamos que já era hora de deixar o amor seguir e mudar de ciclo.
Te amo Clecia Cunha
Que os céus sejam testemunhas para nossos filhos que vale a pena crer no amor.
São Paulo SP.
21 de Maio 2017
Lua Minguante.
Outono.