Jonas 4:11
Irmã Laíde no ponto de Ônibus |
LOUCOS POR VIDA.
(Mais um dia com os malucos beleza. Hospital penitenciário de custódia de São Paulo)
(Mais um dia com os malucos beleza. Hospital penitenciário de custódia de São Paulo)
_O senhor pode me levar até o terminal de trem da Lapa? Eu perguntei ao taxista enquanto entrava no táxi para não chegar atrasado, nem deixar a irmã Laíde me esperando.
_Claro! Ele respondeu o taxista.
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Enquanto eu entro no táxi e acomodo minha mochila e meu violão, o taxista pergunta se eu era músico. Eu disse que não, que apenas arranhava o violão de vez em quando.
O percurso não era longo, mas foi o suficiente para que a curiosidade do taxista procurasse saber para onde eu estava indo.
_Para o Hospital de Custódia de presos em Franco da Rocha. Respondi eu. Vou lá levar um pouco de música para os presos diagnosticados com doenças mentais.
O taxista olhou pra mim surpreso.
_São os bandidos "pinel"? Ele perguntou.
_Sim! São os "pinel". Os loucos que nem o PCC quer.
_Mas vale a pena ir lá? Eles entendem o que você faz? Eles interagem? Eles não são violentos?
Foram tantas perguntas, no entanto eu me concentrei apenas na primeira pergunta que ecoou em minha mente, "Vale a pena?" Então eu o respondi.
_Eu tenho feito isso por eles, mas também por mim. Faço isso para desviar meu coração da letargia e do meu egoísmo. Quero sentir vida em minhas veias. Respondi com uma alegria que fluía fortemente enquanto falava.
_Eu tenho feito isso por eles, mas também por mim. Faço isso para desviar meu coração da letargia e do meu egoísmo. Quero sentir vida em minhas veias. Respondi com uma alegria que fluía fortemente enquanto falava.
_Deu 15 Reais.
_Ok. Tá aqui, pode ficar com o troco.
_Moço, muito obrigado por entrar em meu táxi. Eu preciso fugir do meu egoísmo e sentir vida em minhas veias também. Muito obrigado.
_Fique em paz. Foi um prazer conversar com o senhor. Tenha um dia de paz. Eu falei me despedindo do taxista.
_Ok. Tá aqui, pode ficar com o troco.
_Moço, muito obrigado por entrar em meu táxi. Eu preciso fugir do meu egoísmo e sentir vida em minhas veias também. Muito obrigado.
_Fique em paz. Foi um prazer conversar com o senhor. Tenha um dia de paz. Eu falei me despedindo do taxista.
Na estação eu encontro a irmã Laíde. Pegamos o trem e nos encaminhamos para o presídio.
Como posso descrever aquele ambiente? É uma mistura de natureza e grades, verde e cinza se misturam, vida e morte, liberdade e prisão. A penitenciária fica rodeada por uma floresta e um rio cheio de vida. Capivaras vivem por lá e pássaros cantam a todo tempo. Sabiás, bem-ti-vis, pardais e até um pica-pau eu já vi por lá.
Toda essa vida e liberdade desparece quando adentramos no recinto onde os presos ficam reclusos. Lá é tudo monocromático. O cinza das grades imita o ambiente de The Walking dead. Os presos vestem um uniforme marrom e branco, eles caminham compulsivamente de um lado para o outro enquanto outros detentos se distraem ao fumar um cigarro e outros viajam na leitura de algum livro.
Hoje eu entrei bem introspectivo, estava companhado pelo meu violão e mais duas senhoras. A irmã Laíde decidiu que eu deveria liderar a reunião hoje enquanto ela iria visitar uma outra ala de presos mais violentos e com problemas psiquiátricos mais graves.
Entrei na sala de reunião, mas ainda não havia ninguém no salão. Esperei por cinco minutos sem entender o porquê da ausência dos detentos. Foi então quando um rapaz entrou e eu perguntei onde estavam os "alunos". Ele respondeu que os outros estavam lanchando, pois era a hora do café da tarde.
O salão estava organizado com as cadeiras e bancos nos devidos lugares. Para passar o tempo eu decidi dedilhar meu violão para me distrair e tentar tirar um pouco da minha tensão. Sim, eu estava tenso.
Eu fecho os olhos e começo a cantar e tocar meu violão. Minha voz ressoa no salão vazio. Por um momento eu consigo me distrair e me esqueço que estou naquele ambiente de prisão e dor. Minha alma se liberta e como minha voz, ela quebra as paredes e muros e se perde no infinito.
Minha concentração se quebra ao abrir os olhos eu ver uma multidão entrar atraídos pelo som do violão e pela voz que soava.
Minha concentração se quebra ao abrir os olhos eu ver uma multidão entrar atraídos pelo som do violão e pela voz que soava.
Eles todos entravam e se sentavam nas cadeiras com uma reverência incomum.
Já quase não há mais lugar para se sentar. Então iniciamos o culto, fiz uma oração seguida de alguns louvores da Harpa Cristã.
Tudo o que eu havia planejado para pregar havia desaparecido da minha mente. Deu tela azul, um branco daqueles de deixar qualquer um aflito. A multidão de presos considerados loucos estavam com olhos fitos em mim. Eu não lembrava nem do texto bíblico que eu havia separado para ler e eu pensava comigo mesmo: " Pense em algo Antoniel, pense em algo urgente!"
Então vem aquele "estalo"! MEMÓRIA!! LEMBRANÇAS! É isso!!
Então vem aquele "estalo"! MEMÓRIA!! LEMBRANÇAS! É isso!!
_Todos nós temos boas e más lembranças de nossa vida! Comecei assim o mensagem do Evangelho.
_ As boas lembranças nos trazem boas sensações, emoções e alegrias, enquanto as más lembranças e as más memórias, essas nós tentamos esquecer a todo custo. E mais, não apenas tentamos esquecer, mas gostaríamos que as pessoas esquecessem dos nossos erros, crimes e pecados que cometemos contra as pessoas e contra nós mesmos.
Todos ficam atentos ao que eu estou dizendo. Não há nenhuma distração na sala, eu olho nos olhos de cada um e percebo uma sede deles por ouvirem o que há de ser dito. Eu continuo a mensagem.
Neste momento eu pergunto a eles:"_Queridos, as escrituras dizem que Deus conhece todas as coisas. Me respondam então, há algo que Deus se esqueça? Há alguma coisa que Deus não lembre?" Todos respondem ao mesmo tempo "NÃO! Deus não se esquece de nada!"
Então eu com o dedo apontado para o alto digo a eles: _Há algo sim que Deus faz questão de não lembrar! Dos pecados arrependidos!! Sim, a Bíblia nos diz que Deus lança para o lago do esquecimento os nossos pecados perdoados, ele se esquece dos nossos crimes confessados e deles não se lembra mais.
Daí comecei a falar sobre a graça de se ter os pecados perdoados e esquecidos, da paz que sentimos ao confessarmos nossos pecados, da paz que sentimos quando nós perdoamos e somos perdoados.
Daí comecei a falar sobre a graça de se ter os pecados perdoados e esquecidos, da paz que sentimos ao confessarmos nossos pecados, da paz que sentimos quando nós perdoamos e somos perdoados.
Conclui a mensagem cantando uma música" Pai do céu".
"Pai do céu, me ajude a levar minha cruz
A viver neste mundo imundo
E mostrar pra este mundo,pai
Que eu sou uma luz
Pai do céu, mais que tento acertar,mais eu erro
Me perdoa,mas não sou de ferro
É difícil,tão difícil aprender a viver
Pai do céu, me disseram que o mundo é uma escola
E eu venho pedir-te me ajuda, me ajuda a fazer a lição
Pai do céu,me perdoa
Embora eu não mereça
Dá-me forças pra erguer a cabeça
Eu prometo,prometo que vou acertar
Me ajuda,me guarda, me ampara
Me sustenta e me prepara
Pra quando teu filho voltar."
Ao terminar de cantar, vejo aqueles "loucos" cheios de vida! Vejo sorrisos tomarem lugar de rostos tristes, vejo liberdade romper os muros e grades cinzas de um ambiente que antes era apenas de dor, tristeza e culpa.
Vale a pena? Ah se vale!! Vale muito a pena ir onde poucos vão. Vale muito a pena garimpar sinais de vida onde muitos desistiram de viver.
Vale a pena? Ah se vale!! Vale muito a pena ir onde poucos vão. Vale muito a pena garimpar sinais de vida onde muitos desistiram de viver.
Olho no fundo do salão e vejo a irmã Laíde com um sorriso de orelha a orelha, feliz assim como todos que se juntaram a nós naquele culto cheio de "Loucos" loucos por vida.
São Paulo,
26 de Julho de 2016
Inverno
Lua Minguante.
Antoniel Tony Rimuald