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segunda-feira, 18 de julho de 2022

Ariano Suassuna faz uma crítica no livro, que virou filme, O Auto da compadecida, onde a mulher do padeiro alimenta seu lindo cachorrinho com filé mignon, enquanto seus funcionários passam fome. A humanidade está na UTI, enferma da alma, cega e febril de humanidade. Enquanto isso gastam energia em distrações que evidencia sua esquizofrenia social que não consegue estabelecer o mínimo do que seja uma justa prioridade. O amor verdadeiro sabe estabelecer prioridades justas. Ao fecharmos os olhos para a gritante necessidade dos nossos semelhantes, e inventamos desnecessários mimos para nossos pets, demonstramos a falência da capacidade empática humana. Enquanto a relação entre humanos e animais evoluiu no decorrer do tempo, a nossa incapacidade de envolvimento com seres humanos demonstra um nível de involução animalesca. O amor sabe estabelecer suas justas prioridades! Assim como a mulher do padeiro, na ficção de “O Auto da compadecida”, foi julgada pelo exarcebado cuidados ao seu animal de estimação, a consciência será como um martelo a ferir a alma daqueles que não atendem às necessidades dos pequeninos semelhantes. Deus há de cobrar os que maltratam animais, assim como julgará os que não amaram seus semelhantes. Antoniel Lopes

quarta-feira, 6 de julho de 2022

RECOMECE AOS 40

 RECOMEÇAR AOS 40 ANOS.

Quando eu completei 20 anos eu estava num internato cristão, um seminário confessional estudando Teologia. Naquele lugar, durante os estudo eu pude me formar e estar apto a exercer o ministério pastoral. Também foi durante o período de seminarista que eu pude aprender outro idioma que não apenas abriu minha mente, como também abriu muitas portas para que eu pudesse conhecer outras culturas e países.

Aos trinta anos, depois de passar sete anos pastoreando, eu tive que recomeçar a vida. Fui servir no continente africano por três breves, mas tocantes meses. Servir quem não podia pagar, servir quem tinha apenas o mais valioso sorriso e abraço. Ao retornar ao Brasil eu me tornei empreendedor no interior do Maranhão e iniciei meu escritório de ensino de inglês. Pude fazer parte da realização de sonhos de outras pessoas as quais aprenderam inglês comigo, ou foram influenciados a se dedicar e conhecer outros países.

Mas enquanto há vida, ela se torna tão dinamica que nos coloca em ciclos de fins e recomeços. Aos trinta e cinco anos, já casado tive a chance de estudar Direito na maior cidade da américa do Sul. Uma bolsa de estudo integral. 

Encorajado por grandes amigos/irmãos, por minha esposa e mãe, dexei meu Maranhão e vim pra São Paulo onde fiquei abrigado na simples e solidária casa alugada da minha cunhada.

Estava sozinho, frio do sudeste, desempregado e mais uma vez recomeçando.

Para não entrar numa aspiral de auto destruição causada pela tristeza e solidão, resolvi fazer o que minha alma sempre se dispôs a fazer para me enxer de esperança. Fui servir voluntariamente nos presídios de São Paulo. Eu e meu violão. Entrávamos nas prisões levando música, palavra de perdão, reconciliação, salvação e liberdade. 

Enquanto isso, me debruçava no estudo do Direito. Foram cinco longos anos. Amizades foram feitas naquela faculdade. Professores que inspiraram e ainda me inspiram. Nenhuma nota vermelha, nenhuma reprovação ocorreu porque eu sabia que precisaria sugar todo conhecimento disponível nas aulas para o meu novo recomeço no ramo do Direito.

Eu pensava que me formar e conquistar o Bacharelado em Direito seria o meu maior desafio. Ledo engano! Aprender a prática jurídica também era igualmente desafiador. Encontrar no caminho pessoas abertas a ensinar a prática, os procedimentos as técnicas jurídicas foi algo difícil. Vieram os estágios, com eles o conhecimento. Defensoria pública de São Paulo, Tribunal de Justiça, Vara da Família. Quando aprendizado! Quanta gente importante me ajudou a construir meu recomeço!

Mas havia outro desafio! OAB/FGV. No meio dessa batalha tivemos uma pandemia e com ela todas as cargas de emoções, ansiedades e medos. Mas pessoalmente também enfrentei a tragédia de aborto de um ser querido por quem chamei de filho por alguns poucos meses de gestação. Que baque! Precisava de muita força para não desistir. E ela veio. Forças compartilhadas por quem sempre esteve ao lado, esposa, família, igreja, amigos e estranhos que a gente sequer imagina que se importam com nossa dor e com nossos sonhos.

Prova da OAB havia chegado, o tempo havia passado e com o nascer de novos tempos novas esperanças surgiram. Um novo ser brotava no útero da minha esposa, um filho estava sendo gerado e ele, mesmo ainda no ventre da mãe, trouxe aquela chama que nos faz seguir e não desistir.

APROVADO na OAB, simultaneamente me tornei pai do Kaio Lucas aos quarenta anos! 

Aos 40 anos mais uma vez a vida recomeça! Já não sou mais um jovem rapaz inexperiente, embora tenha ainda tenha sempre a aprender.

Certa vez, enquanto lecionava inglês para uma criança, ela me perguntou: Professor, o que o senhor quer ser quando crescer? Eu a respondi dizendo que queria fazer as pessoas felizes.

Hoje, aos quarenta anos, minha





resposta para aquela criança não seria diferente. Eu apenas acrescentaria dizendo que quero promover a justiça, quero servir a todos os que são injustiçados trazendo-lhes justiça atravez do Direito.

E assim eu recomeço a vida aos 40 anos com o desejo ardente de servi-los como advogado! 

Não tenha medo, nem se demore em recomeçar, há qualquer tempo, mesmo que seja aos 40 anos.

segunda-feira, 27 de julho de 2020

UM VELHO EU.



_Sente se meu jovem, puxe uma cadeira e proseie comigo por alguns minutos.

Com uma voz amigável, olhar vivo mas que já mostravam os anos de cansaço, aquele senhor me fazia um convite simples o qual não  pude nega-lo.

Sentei-me e lhe ouvi atentamente como quem tem curiosidade de saber se havia lucidez naquele homem, ou se a velhice já lhe tinha negado o prazer de manter uma conversa franca, contínua e lúcida.

Com sua fala pausada ele iniciou um assunto, enquanto isso, eu me acomodava numa cadeira de plástico à sua frente.

_Jovem, a idade avançada chegará para todos e quando a gente se dá conta já se passaram décadas, anos e gerações. É como que num susto que a gente percebe que já não tem mais tantos anos de vida pela frente, é como se estivéssemos dormido e acordássemos  velho, com rugas e sem a vitalidade de antes.

Eu o ouvia atentamente  e por um momento imaginei que a conversa tomaria o rumo de apenas ser mais uma conversa saudosista de um idoso que vive num tempo que não é mais o seu. Foi quando então ele passou a tocar num ponto sublime, transcendente, aquelas falas que se assiste em filmes, dignas de peças filosóficas capazes de nos abrir os olhos e nos fazer enxergar rumos, caminhos, mudar o rumo e endireitar nossas veredas. 
Entre uma pausa e outra, o Idoso continuou.
_A nossa existência se passa como um sopro e nós cansamos.
Quantas caminhadas inúteis eu trilhei, quantos fardos desnecessários carreguei e quantos sentimentos tóxicos eu engoli tentando me saciar durante minha jornada.
Felizes, meu caro amigo, felizes são os que se dão conta daquilo que é desnecessário e se desfazem de coisas inúteis enquanto andam, enquanto caminham essa jornada em pleno vigor da vida.
Hoje, já na casa dos 70 anos, me encontro pacificado com a vida e comigo mesmo. Mas até chegar aqui eu tive que trilhar um caminho de volta pra dentro de mim mesmo.
Tive que pedir perdão por causa dos meus egos. Quantas guerras travei, crendo serem guerras santas, que na verdade eram guerras egoístas. 

Tive que me perdoar e pedir perdão aos que feri nessas batalhas inúteis.

Levantei bandeiras, segui movimentos, franqueei minha fé. Lutei dias, anos, décadas buscando arregimentar gente pra minha denominação religiosa, pois cria piamente que o reino de Deus e sua vontade só se faziam presentes na nossa agremiação. Enquanto isso, não valorizei nem enxerguei o amor de Deus sendo revelado no acolhimento despretensioso, caridoso e afável me concedido por aqueles os quais eu tentava converter à minha religião. Os via como perdidos, impuros, carentes do perdão, quando em muitos casos, o cego era eu, o perdido em minha arrogância e religiosidade era eu, eu era o que carecia de um coração sensível para ver o amor do Criador se revelar na sua criação.

Me descarreguei de minha arrogância e me senti mais leve.

Percebi que minha espiritualidade intimista, ritualística e preocupada com o que o Criador iria pensar de mim, era uma espiritualidade estéril, sem vida, abortada por si só . Pois era uma espiritualidade midiática, carente da aprovação dos homens, mas que não refletia a essência daquilo que o Criador requer da sua criatura, que é uma espiritualidade cheia de humanidade, capaz de atingir  de forma prática a vida de outras pessoas, espiritualidade que ama por saber que é bom amar e faz o bem por entender que Deus é bom e que Dele sai a fonte de toda bondade. 
Me desfiz do peso da espiritualidade hipócrita, dúbia e sem afeição ao próximo.

Fui deixando os pesos no caminho, e sabe de uma coisa? 
Aquele senhor olhou fixo em meus olhos, com um sorriso Pacífico nos lábios e um brilho no olhos que me pareciam como janelas abertas revelando uma paisagem de sua alma cheia de paz, de cores e de beleza. 
Ele então concluiu:
_Felizes são aqueles que se desfazem de pesos desnecessários nessa existência, que aprendem a ser sinceros deixando o peso de uma  espiritualidade doentia e que na sua juventude caminham pelo caminho da paz, do perdão e do amor. Porque no fim da vida o mais importante sempre será o Amor.

O ENCONTRO COM O MEU EU IDOSO 
Antoniel Rimualdo
São Paulo 25 de Julho.
Inverno, Lua crescente.

segunda-feira, 20 de julho de 2020

TEÓLOGOS: O QUE FAZEM? O QUE ESTUDAM? SÃO ÚTEIS?

Quando as pessoas me perguntam sobre minha formação acadêmica e eu respondo que uma delas é em teologia, a grande maioria reage como quem não tem a menor ideia do que um teólogo faz, ou o seu objeto de estudo.

Não, a teologia não é o estudo de Deus, como alguns sugerem. Isso seria impossível por razões simples, o objeto de estudo do teólogo não é palpável e não se permite ser colocado em um tubo de ensaio de um laboratório.

Então do que se trata a teologia? A teologia estuda as manifestações de Deus na criação e as expressões da espiritualidade na humanidade.

A presunção, orgulho e soberba são características comuns em muitos teólogos que pressupõem deter o conhecimento de Deus. No entanto essas características apenas cegam os indivíduos, os impedindo de enxergarem as multiformes manifestações da divindade entre nós.

O teólogo deveria esvaziar-se da arrogância e sair do mofo dos seus livros e pisar com os pés descalços no chão molhado para sentir o cuidado do criador na chuva que cai.

Teólogos deveriam, antes de se aprofundarem nos dogmas e doutrinas de uma religião, se lançar a fazer poesia sobre a dor de uma saudade, sobre a perda de um ente querido, deveriam ouvir os que choram e aprender a se alegrar com o contentamento, ao invés de gananciar status, poderes e bens.

O teólogo é como um cego que tateia os sinais gravados em um livro, e assim ir se deslumbrando e percebendo o Criador.

O teólogo só é útil na sociedade quando ele se integra como parte dela e luta para que os atributos característicos de Deus, como a bondade, justiça e amor sejam estabelecidos entre os humanos. Do contrário, o teólogo se tornará irrelevante, se resumirá a raso repetidor de palavras e ideias que se perderam no tempo.

O teólogo cristão, por sua vez, se caracteriza por levar em sua voz e nas atitudes a mensagem de que o Criador se reconciliou com a sua criação, por meio do seu sacrifício numa cruz.

Antoniel Rimualdo.

sexta-feira, 14 de junho de 2019

COMO SER UM PASTOR DE SUCESSO E PERDER A ALMA.



Sabe por que Jesus foi humilhado, foi preso, açoitado, ignorado, crucificado e morto? Certamente você responderia: foi por mim, por nós; ou seja pela humanidade, “para buscar e salvar o que se havia perdido” ou “para que todo aquele que nele crê fosse salvo".

E se Jesus ambicionasse ser um Jesus no modelo de pastor de “sucesso” ? Ou Um Jesus teológico, um Jesus enquadrado e preso pela opinião e enjaulado pela pressão da maioria?

Digamos que Jesus tivesse sido um marqueteiro uma espécie de “lider/pastor couch” da atualidade, que ele tivesse feito mega congressos pelo mundo a fora. Se ele tivesse feito alianças nefastas e interesseiras no intuito de fazer o “reino” de Deus se expandir entre os poderosos políticos e donos do ouro.

Você já pensou se Jesus tivesse feito mega investimentos em templos cada vez gulosos e de visão faraônica?

 E se Jesus tivesse investido na comercialização de água do Rio Jordão? Ou em “manual de como andar sobres as águas”? E se Jesus tivesse desenvolvido um sistema de evangelização baseado em pequenos grupos multiplicadores e selecionado uns dois ou três de seus discípulos para saírem participando de mega eventos de treinamento, onde esses poucos seletos discípulos pudessem expor seus egos e cobrassem “ofertas” generosas para viabilizar suas agendas apertadíssimas?

E se Jesus tivesse montado CT´s E QG´s para adestrar humanos a fim de que estes lhes prestassem todos os tipos de reverencia e que eles fossem obrigados a submeter a todas as ordenanças dele caso contrário seriam todos amaldiçoados? Além de ficarem à mercê de todos os males e tipos de enfermidades e pestes, eles teriam suas finanças confiscadas pelos gafanhotos caso ficasse fora da sua cobertura.

 Já pensou se Jesus tivesse ignorado o fato de ser homem aqui na terra “Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus” e tivesse se autointitulado APOSTOLO, BISPO, ARCANJO, PATRIARCA, nas concepções reformulada da religião atual?

 Pois bem,  se tudo isso tivesse acontecido com Jesus, digo com convicção, ele não teria sofrido, não teria os açoites, as humilhações, não estaria  entre ladrões, ninguém já mais ousaria colocar lhe uma coroa de espinho! Isso tudo seria trocado por regalias e carros de luxo, presidente de ordem de líderes. Ou seja.; não teria CRUZ e muito menos CRUCIFICAÇÃO E MORTE. E o pior de tudo, NÃO TERIA RESSUREIÇÃO!! NÃO teria  acontecido nada no caminho de Emaús, nem no meu e nem no seu, não teria “o caminho a verdade e vida”  Jesus pode até ter morrido por mim, mas o que me convence mesmo é que ele ressuscitou ao terceiro dia por mim e por todos.


Se Jesus tivesse sucumbido à tentação de ser um líder de sucesso, ele até poderia ter sido, mas para isso, ele jamais subiria em uma cruz. Pois pra ser um pastor, à semelhança do verdadeiro discípulo de Jesus, conforme a verdade do Evangelho, é necessário se despir das malandragens, corrupções e politicagens que contamina o espírito pastoral maligno que mata a alma de tantos pastores.

quarta-feira, 13 de março de 2019

Deus ama João de Deus.

João de Deus, é desnecessário  descrever quem ele é, pois sua fama de médium ganhou o mundo. Tão gigante quanto essa fama, foi a trágica notícia de que por décadas ele usou da confiança e carência de um povo para realizar suas maldades e dar vazão para seus desejos carnais mais terríveis.

O médium foi acusado de mais de 600 estupros, de posse ilegal de armas, acusado de ameaçar e coagir vítimas que tentavam denunciá-lo. Em um caso mais dramático uma das vítimas cometeu suicídio logo após todas as denúncias virem à tona. Essa vítima passou anos sendo desacreditada e chamada de louca por acusar o médium de estupro.

Diante de tantas atrocidades cometidas pelo João, o qual era considerado ser um homem de Deus pelas pessoas que o seguiam, após toda onda de denúncias e depois da prisão do médium, depois de ler numa reportagem recente que informa que o João se encontra deprimido na cadeia, posso afirmar que tudo o que está acontecendo com o João pode não ser um castigo divino, mas uma demonstração de que Deus o ama e não desistiu dele.


E NÃO É QUE O JOÃO É MESMO DE DEUS?

O homem já é idoso, poderia  ir mais alguns anos e parar, ou morrer. Mas não! Antes de parar ou morrer, ele terá que se enxergar na luz diante de Deu, dos anjos, do mundo.
Feliz será se houver arrependimento sincero e frutos de arrependimento.

No entanto, mesmo sem ainda essa conversão consumada, é de admirar o quanto esse João é de Deus.
Como eu disse, ele podia ter escapado ileso. Tinha mais alguns anos, se aposentava ou morria em menos de uma década.

Mas Deus não deixou nem se aposentar, nem morrer.

Não é com todos que Deus manifesta esse amor. Apenas com aqueles a quem Ele ama. E ama muito!

Não é que João seja digno desse amor. É o Amor de Deus que o fez digno de ser disciplinado!

Deus só disciplina aquele a quem Ele ama e Ele só manifesta essa disciplina aos seus filhos. Os bastardos ficam sem disciplina a vida inteira! Abusando, enriquecendo, prosperando, crescendo, de vitória em vitória. Os ímpios continuam com a reputação em alta, com poder e mais poder, influencia e mais influencia. Os bastardos não têm o privilégio da disciplina, do descrédito por serem flagrados em suas maldades, ele se tornam seres desalmados, usando da fé dos outros como fonte de lucro ou como meio para satisfação de seus projetos de poder. Os sem amor e cuidado de Deus, fazem em nome de Deus atrocidades, estupros na alma e adultérios.

E passam ilesos! Porque são bastardos.

É chocante ver essa declaração pública do Amor de Deus por João diante do mundo inteiro!

João, de fato e de verdade, é de Deus.

Minha tristeza é pelos bastardos, que seguirão aplaudidos e se declarando mais que vencedores e "filhos do Reino", até o fim. Minha tristeza é pelos bastardos que continuaram fazendo seus tour “ministeriais” pregando em grandes eventos, assumindo cargos de presidência e como executivos de grandes denominações sem serem flagrados ou sem o privilégio de serem confrontados por suas injustiças, maldades e pecados. Como bastardos, como quem não é filho.

Para esses Deus olha e diz: "Minha ira será sobre você, desta maneira: Você seguirá sendo você, diante de você e diante dos homens, até o fim.  E você jamais será descoberto! Será cada vez mais você. E todos lhe glorificarão."

Que ira terrível! A ira de Deus é nos deixar por nossa conta, sem disciplina, até o fim.

É por isso que Jesus diz que, Naquele dia, muito se apresentarão com empáfia e segurança, sem enxergarem-se, dizendo: "Senhor! Em teu nome eu curei, expulsei demônios, profetizei, fiz e aconteci!"


E Ele dirá claramente: "Nunca conheci você! Não sei quem você é! Afaste-se de mim você, praticante da iniquidade!".

João está tendo a chance dessa virada radical e novo nascimento. De se enxergar! De não mais pensar que é de Deus por qualquer coisa sobrenatural que realizou! Oro pra que ele se parta em pedaços, pra que o PARTO do novo nascimento o traga à luz.

Que grande Graça, que derrame de Amor sobre esse bicho chamado João.

É loucura! O Evangelho é loucura para os que estão se perdendo. Mas Deus escolhe as coisas bem loucas do mundo, para envergonhar aqueles que pensam que são...

A Ele seja a glória, por seu louco Amor! Amém!

"Meu filho, não despreze a disciplina do Senhor, nem se magoe com a sua repreensão, 6 pois o Senhor disciplina a quem ama, e castiga todo aquele a quem aceita como filho". 7 Suportem as dificuldades, recebendo-as como disciplina; Deus os trata como filhos. Pois, qual o filho que não é disciplinado por seu pai? 8 Se vocês não são disciplinados, e a disciplina é para todos os filhos, então vocês não são filhos legítimos, mas sim ilegítimos.  (Hb 12:5-8)

quinta-feira, 31 de maio de 2018

UMA TARDE DE PAZ NA PRISÃO




Era pra ser apenas mais uma ação de capelania prisional no Hospital Psiquiátrico de Custódia de Franco da Rocha, isso não quer dizer que a rotina seja sempre a mesma, mas que nesta tarde de Outono algo de especial aconteceu. Estou aqui tentando assimilar as percepções que nosso último encontro teve na vida daquelas mulheres e na minha vida.

Cristina e eu chegamos no horário previsto e depois de afinar o violão, nós fomos encaminhados para o salão onde realizamos nossas reuniões com as detentas. Aqui no hospital psiquiátrico elas são chamadas de pacientes, pois estão em tratamento devido suas debilidades psicológicas ou alterações psiquiátricas causadas pelas drogas. Depois de dois anos no serviço pastoral entre encarcerados, o estilhar dos portões de ferro e o barulho das grades que se fecham ao entrarmos já não me assusta mais, a gente vai se acostumando de certa forma.

Como sempre, ao chegarmos, as detentas nos cumprimentam e anunciam aos gritos "O pastor chegou, olha o culto! olha o culto!!".

 Me encaminho ao salão destinado as nossas reuniões e começo a dedilhar o violão, a Cristina sentada numa cadeira um pouco distante, começa a conversar com uma ou outra detenta que entra no recinto. Organizamos as cadeiras e em menos de cinco minutos o salão se encontra cheio com a presença de pelo menos 30 pacientes. A ala feminina tem em torno de 80 detentas, algumas trabalham durante as tardes, outras fazem trabalhos manuais e algumas ficam disponíveis para participar das nossas reuniões. Reuniões em torno do evangelho e com uma liturgia simples e participativa, nós cantamos canções conhecidas, oramos, conversamos e semeamos a Palavra do Evangelho.

Elas chegam sempre com uma certa reverência e sentam nas cadeiras, outras se ajoelham e fazem uma breve oração, enquanto isso meu violão, que foi doado por uma carcereira, faz soar uma melodia bem conhecida por elas:


"♫ E mesmo quando eu chorar,
as minhas lágrimas serão,
para regar a minha fé,
e consolar meu coração,
pois os que choram aos pés da cruz,
clamando em nome de Jesus,
 alcançará de Ti Senhor,
misericórdia, Graça e Luz.
♫"

No momento em que eu tocava e cantava essa canção, não pude deixar de perceber a emoção de uma das pacientes. Ela estava sentada à minha esquerda, com os olhos fechados, ela levava as mãos ao seu rosto delicado secando suas lágrimas, de pele negra, algumas cicatrizes no braço e uma história cheia de dramas, dores e culpas. Lembro dela já ter pedido oração para o filho pequeno. Por um instante ela, mesmo com os olhos banhados de lágrimas, deixa um breve sorriso escapar. Por um momento, creio que aquele encontro com música, oração e amor a faz esquecer das grades, da solidão, da saudade e da culpa.


Ao terminar de cantar aquela música, ouço uma voz a me pedir:"_Pastor, canta aquela música que você nos ensinou, aquela que diz: 'tente lembrar..'"
Imediatamente começo a dedilhar o violão e todas em uma só voz , como se estivessem em um coral, começam a cantar: 

"♫ Tente lembrar, se alguma vez Jesus te abandonou? ♫ Tente lembrar, quantas vezes Ele já te levantou ♫"

É impressionante notar o que acontece com um ambiente, quando pessoas cheias de amor,
 movidas pela paz e a solidariedade se encontram! Quando pessoas assim se unem, fazem com que ambientes adoecidos se tornem lugares de cura, de paz e de transformação. Aquele presídio/hospício, todas as quartas feiras se transforma de um ambiente de prisão, depressão, raivas e dores, em um lugar de paz, amor, humanidade, cura e de luz. Já vi igrejas serem lugares sombrios. Já vi crentes e pastores se tornarem carcereiros aprisionadores, mentirosos e carrascos, transformarem ambientes de igrejas em lugares doentios, sombrios, mortais, cheios de mentiras e ódios. 

Com o pastoreio entre os encarcerados, eu também aprendi que não é o prédio que se torna igreja, mas sim as pessoas que se reúnem e que são sensíveis ao Evangelho, evangelho que é paz, amor e verdade; então onde há pessoas assim, qualquer lugar pode se tornar um ambiente onde a verdadeira Igreja de Cristo se faz presente.

Quando eu me proponho a levar a palavra do Evangelho, eu sempre tenho comigo a consciência e seriedade da grande responsabilidade que tenho. Independentemente de onde eu esteja, com quem eu estiver falando, em qual for o lugar, eu levo comigo a certeza de que o Evangelho não deve ser reduzido à palavras de auto ajuda, não deve ser comparado à mensagens "mágicas" de indução psicológicas, o Evangelho não deve ser indiferente as realidades que a vida apresenta. Por isso o Evangelho tem que ser real, aplicável, transformador e sempre mensageiro da mensagem de justiça, paz e do amor de Deus que transforma, perdoa, pacifica e que nos recebe como filhos amados.

 O ambiente estava mais leve, as expressões das detentas estavam bem mais suaves e singelas, o chão do coração delas estava arado e pronto para receber a semente do Evangelho. Foi então que eu iniciei:
_Vocês lembram daquelas palavras de Jesus em que Ele diz: "Vinde a mim todos vocês que estão cansados e oprimidos e eu lhes aliviarei, aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrarão descanso para vossas almas"? Elas responderam que sim, algumas até recitaram comigo enquanto eu falava o versículo. Então eu continuei:
_ Essas palavras de Jesus são bastante conhecidas por muitos, mas pouco compreendidas pela maioria. Nós geralmente pensamos nessas palavras apenas como se Jesus estivesse falando sobre céu e inferno, sobre almas como sendo um descanso aplicado apenas para quando a pessoa morrer. Também somos tentados a pensar nessas palavras como sendo boas para os outros e nunca para nós mesmos. Então deixe eu lhe falar algo importante aqui. Primeiro você precisa entender que Jesus estava falando com gente, com pessoas que tinham suas dores, seus dramas, seus conflitos, pessoas normais iguais a você e a mim. No tempo de Jesus, ele andava com pessoas que eram discriminadas pelos religiosos, eram pessoas as quais os religiosos chamavam pelo adjetivo, não pelo nome, não pela profissão. Os religiosos chamavam as pessoas com quem Jesus andava de pecadores, prostitutas, cachaceiros. Era assim que os religiosos se referiam àquelas pessoas para quem Jesus disse as palavras "vinde a mim vocês que estão cansados e oprimidos". Portanto, as pessoas estavam cansadas! Cansadas de serem desprezadas, cansadas de serem excluídas e não serem recebidas por aqueles que naquele tempo eram os representantes de Deus entre eles. Por outro lado, as pessoas estavam oprimidas pelo governo. Elas não significavam nada para o governo romano, eram apenas fonte de lucro, de geração de impostos. A vida não tinha muito valor, as histórias de vida pouco importavam, nem para o governo, nem para os sacerdotes da religião. Então nesse contexto, Jesus se aproxima das pessoas, anda com elas, sente as dores delas, ouve seus dramas, suas dores, seus abandonos, suas tristezas, seus desprezos e leva a elas essas palavras de transformação, de vida, de paz. Ele diz: "Venham a mim, vocês que estão cansados, oprimidos e eu aliviarei seus pesos e vocês encontrarão descanso para a alma de vocês."

Neste momento, enquanto eu falava com serenidade e emoção, eu pude ver nos olhos delas um misto de tristeza e curiosidade. Tristeza por terem se identificado com aquelas pessoas cansadas e oprimidas, curiosidade por quererem saber como que o Evangelho de Jesus poderia aliviá-las hoje. Continuei a falar como quem tem uma mensagem capaz de arrancar um tumor com a precisão e perícia de um médico cirurgião.

_Queridas, escutem o que vou lhes dizer. Eu sei que vocês estão cansadas. Cansadas de serem tratadas como um pedaço de pecado, de serem chamada não mais pelo seus nomes, mas pelos seus crimes. Estão cansadas de serem excluídas e discriminadas pelos religiosos, pela religião, de serem consideradas como pessoas sem futuro e sem solução. No tempo de Jesus as pessoas eram apelidadas pelos seus pecados, eles chamavam Maria Madalena apenas de "a prostituta". Maria Madalena já não tinha mais nome, ela sentia o bullying dos religiosos, mas ao se encontrar com Jesus, ele tirou dela esse cansaço e devolveu a ela a sua verdadeira identidade! Maria Madalena, Maria perdoada, Maria restaurada, Maria filha de Deus!
 Vocês que estão aqui presas não precisam carregar essa carga pesada que está cansando vocês! Vocês podem se livrar desse peso, basta vir a Jesus que ele vai lhe devolver a verdadeira identidade, lhe chamar pelo seu nome e lhe perdoar dos seus males e pecados. Vocês não precisam mais viver oprimidas pelas injustiças, pela culpa do erro. Deixa eu lhes dizer algo aqui. Se eu vivesse todos os dias me culpando pelos meus erros, me martirizando pelos meus pecados, eu adoeceria da mente. Pois qualquer mente sã que vive oprimida pela culpa, acaba adoecendo e muitas vezes enlouquecem. A mensagem do Evangelho retira de nós a opressão da culpa causada pelos nossos erros e pecados. Jesus retira essa opressão e a substitui pelo alivio!! Alivio causado pelo perdão, alívio para a vida, alívio que nos permite vivermos LIVRES, mesmo estando encarcerados!! É esse alívio que eu vim trazer hoje para vocês minhas queridas detentas. Vocês não precisam mais viver cansadas e oprimidas. Vocês podem receber hoje o alívio, a paz e a dignidade de serem chamadas como filhas perdoadas e amadas por Deus!!

Enquanto eu falava, uma senhora que já está há mais de doze anos presa me interrompeu. Seus olhos brilhavam, e ela com a voz embargada disse: _Eu, hoje e pra sempre, estou perdoada, sou amada e agora posso descansar do peso da culpa e me aliviar da opressão pela qual tenho sido oprimida por tantos anos. Eu sou perdoada e aceita por Deus!

E assim pedi que fizéssemos um circulo e juntos oramos o pai nosso. A mensagem foi plantada e deu pra sentir que foi acolhida no coração de todos ali. Ao terminar, elas se despediam de nós e com abraços, apertos de mãos e nos olhar a expressão de quem tirou uma tonelada de peso da alma, achando descanso e paz com o Criador. E foram todas, andando, amadas, perdoadas, aceitas e leves de alma.


Como estudante de Direito, eu sei da importância de que visitemos as instituições judiciais para nos familiarizarmos e nos ambientarmos com a rotina jurídica. Como pastor, creio que só teremos pastores humanos, pastores de gente, pastores não mercenários e desumanos, se estimularmos que os pastores deixem seus escritórios frios e passem a andar com gente, a visitar presídios, a se aproximar de pessoas que não podem dar nenhuma vantagem em valores monetários, mas que podem ensiná-los a exercitar a humanidade e o verdadeiro pastoreio cristão.

Agora que você terminou de ler até aqui, eu lhe convido a se juntar a mim. Se você quer fazer o bem, quer ser luz, quer ser Jesus para as pessoas, eu lhe apresento essa possibilidade, esse canal de demonstrar amor, paz, perdão e salvação.

São Paulo,
30 de Maio 2018
Lua cheia. Outono.

Pr. Antoniel Rimualdo
Bacharelando em Direito
Bacharel em Teologia
Pastor Batista (pastor de gente)